inclusão é a palavra de ordem da nossa era. um tema da moda.
em épocas de acalorados discursos
políticos como essa de eleições-eleitoreiras, percebemos como o argumento da inclusão se
tornou o tema mais recorrente. em qualquer debate sobre questões sociais, econômicas,
educacionais lá está ela, a tal inclusão. apesar de ser presença garantida em políticas públicas e ações de todos os tipos, se olharmos com um pouco de criticidade para esses discursos veremos que são construídos muitas vezes de forma contraditória.
muitos autores, têm questionados as origens e desdobramentos políticos da ordem desse discurso sobre a inclusão: o que pressupõe? o que possibilita? a que tipo de sujeito se destina? quais relações sociais requer?
enquanto ocorre o amplo uso desse termo em diversas áreas, pressupondo diversos outros conceitos, vemos que, atualmente, a associação entre inclusão e acessibilidade às tecnologias de informação e comunicação é cada vez maior. quem não tem acesso e/ou não sabe usar o computador, a internet, não está em uma rede social digital, seria excluído. desde o final da década de 1990 no brasil, baseado em ações internacionais, temos visto o investimento em programas que se destinariam à inclusão de pessoas excluidas digitalmente: assim desde a implantação de laboratórios de informática, centros de acesso, os infocentros até os programas de distruibuição de computadores para alunos de escolas públicas como o UCA e de ampliação do sistema de banda larga nas escolas (Plano Nacional de Banda Larga), estariam vinvulados aos objetivos de incluir e garantir o direito à participação nessa nova cultura, a digital.
no livro
Inclusão digital: polêmicas contemporâneas, já no prefácio, elaborado pelo professor André Lemos, vê-se um profundo questionamento sobre essa noção de inclusão pressuposta em ações que apesar de visarem à inclusão, na realidade excluem os já excluídos, dando-lhes ainda um falso sentimento de inclusão. (p. 15).
no artigo
Inclusão Digital: ambiguidades em curso de Bonilla e Oliveira (p. 23 - 48) os autores apresentam uma análise dos discursos sobre a inclusão digital. tomando por base a crítica empreendida por diversos autores aos conceitos que fazem parte da tessitura da inclusão digital: exclusão e inclusão social.
embora os autores analisados, discutem como controversa a noção de exclusão, uma vez que a esta limita a compreensão da complexidade da problemática social. afinal, no atual sistema economico em vigor, o capitalismo, a exclusão é a regra estruturante. assim, as propostas de inclusão oriundas de concepções limitadas da dinâmica tensa e contraditória, não dão conta nem de explicar, nem de superar tais conradições.
o texto ainda analisa como esses argumentos foram transportados para a questão das tecnologias, localizando histoorica e conceitualmente essa transposição. as políticas de inclusão digital que têm sido construídas em nosso país, deste modo, não superam a lógica verticalizada de concepção, implantação e gestão de programas que, não têm oportunizado a superação da lógica economicista e/ou consumista. que quesitione e ensine a questionar as próprias concepções em que se baseiam.
os autores apontam para a necessária superação desses equívocos conceituais e políticos que a inclusão digital, como tem sido encarada no brasil tem fomentado. apontam para a construção de perspectivas emancipatórias que visem a mudança de foco das politicas na medida em que enfatizem a produção de conteúdos digitais que valorizem as culturas das comunidades atendidas (não pressupondo sua dependencia e limitação, ou seja: não pressupondo que são passíveis de inclusão, portanto, sujeitos passivos, manipuláveis) mas que sejam capazes de criar e recriar suas próprias experiências critativas, contextualizadas com as próprias expectativas.
dentro dessa perspectiva, penso na experiência dos meninos d
A Voz das Comunidades. inicialmente um jornal impresso e xerocado por um grupo de crianças (de 12 anos aproximandamente) com notícias, informes e outros conteúdos culturais interessantes, distribuidos gratuitamente para os habitantes da comunidade do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. com a ocupação da polícia carioca à comunidade, e com a midiática exposição da fuga dos traficantes e das ações policiais (muitas vezes violentas e desastrosas), o jornalzinho, que a essa altura já estava em um blog e no twitter, ganhou o mundo.
sigo o Renê Silva, o @Rene_Silva_RJ, idealizador dA Voz. acompanho suas andanças, palestras e eventos, divulgando o trabalho relizado na comunidade. volta e meia ele questiona como as mídias tradicionais tratam as notícias dadas em primeira mão por eles, são meninos agora com 18 anos em média, não seriam dignos de serem referenciados como fonte? na maiorira das vezes não são.
as mídias, a escola, a polícia, a comunidade, tudo está passível de transformação na medida em que seus próprios moradores, meninos e meninas, e tantos outros espalhados pelo brasil por eles inpirados, têm voz. poder falar o que pensam, o que querem, o que vivem, o que sofrem é um avanço, tendo em vista o histórico silenciamente dos estratos sociais mais fragilizados.
tomando o Renê como exemplo, penso que se falar de 'inclusão digital' é limitador demais. o Renê e sua trupe não estão incluídos. continuamm fragilizados por uma série de fatores geográficos-políticos-etnicos-econômicos etc, etc. o que eles fazem, no entanto, os colocam para além da maldita caixa que formata pensamentos e vidas.
urge, portanto, repensar essa "inclusão" para além dessa lógica capitalista que torna o consumo dos produtos uma necessidade (afinal, quem não possui ou não sabe usar esses 'brinquedinhos tecnológicos' está fora do mundo digital).
como os integrantes dA Voz, precisamos aprender a vivenciar, compartilhar, re-criar e re-significar nossa cultura, do local para o global, dizer a própria palavra.
mais sobre o Renê:
aqui, aqui e aqui